Não me toque

Por favor, não me toque.

Não me toque de qualquer jeito.

Não me toque sem me perguntar como eu estou, sem saber se estou pronta, sem fazer alguma ideia sobre a minha história.

Não me toque como as outras mulheres que me tocaram. Que me abusaram de todas as maneiras e saíram cuspindo sobre o meu corpo, como se não fosse nada.

Não me toque igual tocou em outras mulheres. Nós somos diferentes.

Não me toque sem despir o meu corpo e minha alma com você. Não me toque sem cobrir o meu corpo e minha alma com você.

Não me toque se acha que não sinto nada. Eu tenho dores, cicatrizes, marcas, beijos e arranhões sobre meu corpo. Você consegue ver?

Não me toque se não permitirmos perder o controle sobre nossos corpos e sentir a vibração pulsar sobre eles ao estar em conexão.

Não me toque se não quiser gozar das nossas presenças.

Não me toque se eu disser não e não me toque se o não vier de você. Eu já toquei e deixei ser tocada sem respeitar o meu não. O não é mais íntimo que o sim.

Não me toque se eu não puder te tocar. Não me deixe te tocar se eu não te dei permissão para me tocar. Porque o atrito entre as peles exige que seja nós duas de verdade.

Não me toque se estiver com pressa. Preciso de tempo pra você, tempo pra mim e você precisa de tempo pra você mesma e pra mim.

Não me toque se não for chorar, rir, gritar ou brilhar. Precisamos que seja de verdade para nós. Devemos despir não só as roupas físicas, mas as máscaras, os pesos, os abusos, os sentimentos.

Por favor, me toque quando estivermos prontas, sem pressa, de verdade, sem controle, despidas, unidas, amadas e permitidas. Eu quero lembrar de você como uma das mulheres que me amaram e nos amaram, e não como as que nos abusaram e nos violaram.

Me toque na presença, na nossa presença. Me toque além do sexo. Me toque com amor.