O prazer

Mariana Camara
3 min readJun 16, 2021

O que é o prazer para você?

Acho que grande parte das pessoas, senão todas, já ouvir sobre prazer. Ter prazer em viver, prazer no trabalho, na vida amorosa, na vida sexual, na vida em si. Mas será sabemos definir o que é prazer em si? Será que desfrutamos do prazer de forma plena, verdadeira e consciente?

Bom, se observarmos a nossa vida cotidiana, poderemos ver que vivemos mais no automático. Um exemplo prático disso, é quando estamos comendo alguma coisa. Será que você consegue gozar de comer um pedaço de bolo o sentindo, sem se distrair com celular, televisão, embalo de alguma música, sem conversar com ninguém ou, simplesmente, sem pensar em nada? Geralmente conseguimos desfrutar desse momento até a segunda mordida, depois nos perdemos nas distrações.

Não fazemos muitas coisas com prazer, de forma plena, acho que nem que paramos pra pensar o que seria o prazer e o que fazemos com isso. E acho que esse fazer é outra questão: O que fazemos com o prazer?

Embora a gente queira viver com o gozar de algo, temos algumas travas que nos impedem e, dentre elas se esbarram na resistência, mania de controle e performance. Um exemplo muito forte disso seria durante práticas sexuais, como a masturbação e o sexo em si. Na masturbação a gente pensa em muita coisa, há quem use de outros mecanismos, como a pornografia, mas já parou para pensar que não nos contentamos com o momento presente? A gente foge de alguma forma, vendo vídeos ou pensando naquela pessoa que mexe com nosso erotismo. Não pensamos em nós mesmos, em desfrutarmos da sensação, em respirar, em estar ali, em prestar atenção no toque que fazemos ou que recebemos. A maior expectativa das pessoas durante o sexo e a masturbação é chegar no orgasmo. Fazer sexo, se tocar para poder gozar e desfrutar da sensação proporcionada. Mas e o antes disso? Será que estamos tão atolados em tantas coisas, tantos pensamentos durante o toque que não conseguimos sentir o prazer que tem antes do gozar?

Uma vez eu li que não era responsabilidade de outre em nos fazer gozar durante o sexo. E realmente isso traz uma verdade, porque a gente tenta jogar para o outro uma responsabilidade que é nossa. Quais travas temos que nos impede de gozar de forma plena? Talvez o medo do corpo fugir do controle. Mas por que queremos ter controle do nosso próprio corpo?

Na vida profissional funciona da mesma forma. Temos medo de como as pessoas irão nos julgar se mostrarmos que sentimos prazer em algo que fazemos ou, nos acostumamos a viver sem sentir prazer, com dores, frustrações, que a ideia de viver com prazer é algo que não passa na nossa mente. Queremos viver com prazer, com essa sensação e leveza e felicidade, mas não trazemos isso pra nós. Em um momento achamos difícil por diversas razões, como os hologramas e crenças que temos. Noutro momento, damos ao outro de nos proporcionarmos isso.

Nas minhas vivências com o tantra eu entendi que não era assim. Eu tinha e tenho muitas travas que carregava e carrego comigo, devido a algumas situações passadas, crenças e valores que foram me apresentados e ainda permeiam a minha vida, que me impediam de desfrutar qualquer momento que poderia me envolver inteiramente. Segurar o choro, a raiva, a dor, a felicidade, o amor e o prazer. E por mais que eu me permitia fazer qualquer experiência tântrica, achando que era responsabilidade do outro, de me fazer sentir qualquer coisa, menos eu desfrutava do prazer. Quando eu pude entender que realmente esse bloqueio era uma ferramenta minha, e os motivos que me faziam agir daquela forma, tudo começou a ser diferente. Eu pude entender que o prazer de tudo, de chorar, de gritar de raiva, de sentir medo, de ficar feliz e gozar, são algumas faces do prazer em si e, quando nos permitimos sentir de forma plena, consciente e presente, sentimos as sensações de qualquer uma delas. E talvez o prazer ele nos mostre isso também, que nem tudo precisa ter uma reação, um feito, um agir, um lidar, um controle, uma palavras. Ele só precisa ser sentido para conseguirmos prolongá-lo por mais tempo.

O prazer tem várias definições, vários conceitos, “eu acho”. Mas se conseguirmos o viver de verdade, sem demora, presentemente, conseguiremos sentir, o entender e nos entender.

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Mariana Camara

Macumba, musculação, literatura, lesbianidade e surtos de escrita que me fazem ir e voltar deste lugar. Insta: @mariric_